terça-feira, 2 de junho de 2009

OS TAMBORES DA TERRA


A percussão no Brasil

O índio foi o primeiro percussionista brasileiro.

Batendo um ritmo continuo no chão com os pés, usando a voz com sons guturais e tocando vários chocalhos; assim descreveram os colonizadores que aqui chegaram àquilo que viram e ouviram dos habitantes deste novo continente.

Localizadas em diversos pontos do então novo mundo, as várias nações indígenas já possuíam uma linguagem percussiva própria.

Foi com enorme curiosidade e medo que os índios escutaram pela primeira vez o som de tambores marciais, das caixas de guerra, o dos metais e até do bronze no sino, trazido pelos colonizadores.

A contribuição européia tornou-se mais um elemento rítmico e sonoro na percussão brasileira.

Porém, a terceira e mais forte influência foi sem duvida aquela trazida com a chegada dos escravos de origem africana.

Os africanos oriundos de diversas regiões e tribos com sua sólida tradição e cultura musical, possuíam amplo domínio dos tambores, madeiras e dos metais

(ferro e bronze).

Levadas para diversas regiões do país, este contingente de escravos negros superou grandemente a população indígena e branca, constituindo-se em uma ameaça à sociedade colonial e por isso, eram , os negros, severamente vigiados.

Tão evidente era a presença da percussão africana entre os escravos, que uma série de medidas foram tomadas para proibi-las.

Na Bahia em 1850, em conseqüência à Revolução dos Malês, foi proibida a entrada dos tambores Batá , em todos os portos do pais e ordenada à queima destes tambores para que nunca mais seus toques fossem ouvidos.

Assim, calava-se a voz destes tambores rituais que, além de seus toques sagrados, incitava os escravos a luta.

Em todo o país, proibiu-se a utilização de tambores e outros instrumentos de percussão nas igrejas.

Houve uma sistemática perseguição aos terreiros de candomblé, confiscando e queimando tambores e instrumentos rituais e musicais.

Decretou-se severa punição às manifestações lúdicas dos escravos, nas quais a percussão tinha um papel preponderante, como o batuque e a capoeira, por exemplo.

Essas proibições e punições não poderiam ser suficientes para controlar o grande numero de negros traficados para o Brasil.

De fato, o colonizador, ao trazer quatro milhões de mão-de-obra escrava, estava “importando” milhares de percussionistas, que, com seus toques tribais, sagrados e profanos, assustavam e ameaçavam o poder.

Esse caldeirão rítmico influenciou a música trazida pelos marinheiros europeus, a música da corte e a música tocada nas igrejas.

As formas musicais trazidas da Metrópole como o Fado, a Valsa e a polca tornaram-se ritmicamente mais vibrantes ao se misturarem à Fofa e ao Lundu,

Estilos mais populares.

Também cresceu o número de músicos que tocavam nas igrejas, nas casas e nas ruas.

Quem eram esses músicos que vão surgindo por todo o Brasil ?

São escravos, negros alforriados, mulatos e seus descendentes.

Estes intérpretes, africanos de origem, com sua fácil assimilação dos elementos musicais europeus e da pequena, mas presente, influencia indígena, desenvolveram um estilo particularmente brasileiro, em que a percussão se torna indispensável.

O lundu, já bastante popular e exemplo notável desta assimilação, passou a ser proibido nos salões por ser considerado um ritmo e dança indecorosos.

A manifestação popular européia dos três dias de carnaval recebeu, no Rio de Janeiro, o nome de Entrudo.

Pelas ruas desfilavam grupos fantasiados, cantando e tocando, e, entre eles, o Zé Pereira, figura típica do português, tocando bumbo ao lado de grandes bonecos

(gigantões).

Os negros e serviçais do palácio imperial, se apropriando da figura do Zé Pereira, organizavam um bloco de carnaval com bombos, caixas, pratos e os indispensáveis clarins, desfilando pelas ruas do Rio de Janeiro, tocando o Zé Pereira, agora com sotaque brasileiro.

Esta tradição permanece viva até hoje, principalmente em Ouro Preto, Minas Gerais, onde o clube dos Lacaios percorre as ruas da cidade, anunciando a abertura oficial do carnaval, tocando o ritmo do Zé Pereira.

Estes festejos também aparecem na cidade mineira de Mariana e no interior do estado de São Paulo.

Aproveitando a liberação dos costumes, durante o período carnavalesco, foram surgindo por todo o país inúmeros grupos de foliões, que trouxeram para as ruas cantos e toques de suas tradições culturais.

Desta forma, Bantos e Sudaneses as duas mais representativas etnias africanas no Brasil organizaram-se e saíram pelas ruas tocando e cantando em homenagem a seus orixás.

No Rio de Janeiro, Ceará, Minas Gerais e principalmente na Bahia, começaram a aparecer os grupos de Afoxé.

Também conhecidos como candomblé de rua, estes grupos, formados unicamente por homens, marcavam a presença africana no carnaval.

Na Bahia, os afoxés Império da África, Mercadores de Bagdá, Filhos de Gandhi, e Pai Burukô, grupo criado por Deoscóredes dos Santos (mestre Didi), marcavam a presença dos terreiros no carnaval de Salvador.

Pelo inevitável processo de aculturação surgiram os afoxés de Índio e de Caboclo que seguiam o modelo africano diferenciando nos cantos e nos trajes.

Os grupos de afoxé foram se adaptando a várias modificações e, com o tempo,

Muitos deles extinguiram-se.

O afoxé Filhos de Gandhi é a representação máxima desta resistência cultural.

A cada ano, aumentando o número de seus componentes, veio criando algumas inovações como o uso de caminhão com amplificadores para voz e percussão.

Originalmente, cantando em idioma africano e com uma formação instrumental composta de *Ilus, Atabaques, Agogôs, Xequerés, tem no ritmo do *Gexá a sua característica principal.

Em Pernambuco, o Maracatu é a representação lúdica de uma corte real africana.

Com toda a sua pompa, luxo e seu ritmo inconfundível ocupam as ruas , desfilando ao som dos tambores aqui chamados *Alfaias, Xequerés e um enorme Agogô.

Este ritmo contagiante tornou-se uma das principais características do carnaval de Recife.

Nas ruas de Belém e de Manaus, os blocos indígenas agora aculturados e a tradição nordestina do Boi deram origem ao maior evento popular do norte do país, que é a festa de Parentins.

O ritmo sincopado do boi com seus variados sotaques disputam a preferência popular entre o Boi Azul e o Boi Encarnado.

Por meio destas e tantas outras manifestações populares a percussão revela a presença rítmica destas três vertentes da nossa cultura.

O Índio, O Branco e O negro.

A percussão no candomblé.

Os escravos africanos que vieram para o Brasil eram de várias etnias.

Duas delas se destacaram, Bantos e Sudaneses.

Levadas a várias regiões do país as diferentes nações etno-culturais e suas praticas religiosas foram aparecendo.

Os Gêge, Nagô, Keto, Angola, formaram os terreiros de candomblé, onde a percussão sempre foi um de seus fundamentos.

À medida que vão surgindo os terreiros das diferentes nações a percussão do candomblé sofre algumas influências da cultura do Índio e do Caboclo.

Tomando como exemplo a nação Keto:

O grupo é composto em media por cinco percussionistas que passam por um longo aprendizado ORAL dos toques cantos e danças dedicados a cada orixá.

Esses músicos chamados Alabês são os responsáveis pela percussão que toca nos terreiros e em diversos outros rituais.

Os atabaques utilizados são especialmente preparados, batizados e sacralizados e passam a ter uma importância primordial dentro do terreiro.

Qualquer pessoa que chega a uma festividade no terreiro deve primeiro saudar os atabaques antes de qualquer outro gesto, reza a tradição nagô.

Os atabaques são três;

Rum- atabaque maior com afinação mais grave.

Rumpi- atabaque médio com afinação mais alta.

Lé- atabaque menor com afinação aguda.

De acordo com a nação são tocados com as mãos e às vezes com Aguidavi, (galhos de arvore especialmente escolhidos e preparados para esta função).

No rum (atabaque maior) é comum a utilização do aguidavi somente na mão direita.

Enquanto o Rumpi e o Lé mantêm um ritmo mais contínuo o Rum tem uma execução bastante contraponteada conferindo-lhe assim uma criatividade maior.

Tendo uma função importantíssima e sendo várias vezes quem inicia o toque, o Gam (agogô), uma ou duas campânulas de ferro marca com mínimas variações as células rítmicas correspondentes a cada toque.

O quinto instrumento é o Xequeré, grande cabaça contornada por sementes chamadas de Lágrima de Nossa Senhora fazendo uma marcação bastante linear. As sementes podem ser substituídas por contas e também por conchas como modelos originais encontrados na África.

Com esta formação musical que ocupa um espaço destacado dentro do terreiro dá-se inicio a uma seqüência de toques e cantos que obedecem uma ordem pré- estabelecida tocando de três a sete musicas para cada orixá.

Cada orixá tem seu toque característico.

Exu, Ogum, Oxossi, Ossanha, Obaluaê, Oxumaré, Xangô, Iansã, Oxum, Nanã, Iemanjá, Euá, Obá, Oxalá.No final executa-se um toque dedicado a todos os orixás chamado Avania.

É prática comum, homenagear com toques e cantos orixás de outras nações assim também os Índios e os Caboclos.

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